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Meu primeiro sesshin

  • Foto do escritor: Alice Sales
    Alice Sales
  • 16 de nov. de 2022
  • 3 min de leitura

Atualizado: 23 de nov. de 2022

Acabei de chegar do meu primeiro sesshin.

O que é o sesshin? O ideograma “SE” tem o sentido de “consertar ou reunir”; e “SHIN” significa “mente”, são vários dias em comunidade praticando zazen em silêncio absoluto.

Um texto zen diz “ Para que sentamos em zazen? Para consertarmos nossa mente e verdadeiramente vivermos uma realidade. Essa realidade é aqui.” e agora faz mais sentido que nunca.


Venho praticando há 450 dias seguidos (conto os dias, isso ainda é importante pro meu ego) e a cada prática algo move, algo que ainda não sei explicar bem. Levei o livro Essencialismo e reli na estrada indo para o retiro, pra mim ele conversa muito com o zen e mexeu muito comigo porque desde o o início do ano eu estava naquela filosofia sem conseguir dar nomes aos bois. Zazen e o sesshin me mostraram o essencial em seu micro e me assustou. Ecoava dentro de mim: menos, porém melhor.


Lá percebi que vivi uma vida de ilusões e desperdícios, sem perceber o essencial.

O que fica. O que importa. O que merece minha energia tão preciosa.

Lá no retiro em silêncio absoluto e meditando o dia inteiro tudo foi ruindo.

Eu quis fugir, mas não podia.

Eu queria ficar um pouco na internet, mas não tinha sinal.

Eu lembrava a mim mesma que escolhi estar lá, escolhi passar por aquela experiência e vinha a voz da minha vó: agora aguenta. Eu senti tanta dor, física (devido à posição da meditação por muito tempo) e emocional (devido a tudo que eu estava vendo refletido naquela parede.)

Percebi estarrecida que vivi boa parte da vida focada no futuro, esperando o amanhã melhor. Cheia de "se's" e "quando's". Focada no objetivo. O objetivo era ser gente, o tal de “ser alguém” e eu precisava de muitos títulos e de pessoas que validassem isso a qualquer custo. Depois o objetivo foi ser uma ótima psicóloga, uma excelente amiga, uma pessoa boa diante da sociedade, blábláblá...coitada de mim.

Uma meta atrás da outra, eu corria.

Ter, garantir, controlar, saber, segurança. Uma eterna busca por segurança em todos os sentidos do que essa palavra significa.

Tudo ilusão. O tempo leva tudo...lá naquele lugar o dia raiava, as aranhas passavam...os besouros voavam....a vida me vivia... e eu era arrastada por ela, tentando segurar... em breve eu não estarei mais aqui e gritava “CALMA! CALMA! EU AINDA NÃO ESTOU PRONTA, MAIS DEVAGAR, POR FAVOR!”.

Dentro de mim havia muito barulho, mas eu não podia gritar, nem reclamar, nem pedir nada a ninguém, nem conversar.

Não havia nada que eu pudesse fazer para passar o tempo. O tempo me passava.


E apesar dos meus lamentos internos o sol deitava e se levantava, os passarinhos cantavam e os trovões me atravessavam durante a noite. E eu que durmo bem, tive insônia.

O sino tocava no outro dia e eu tinha que parar de novo, olhar minha mente inquieta que ansiava pelo fim de tudo aquilo. Ver a comunidade passando por isso junto comigo me deu muita força, muito embora em minhas fantasias eles estavam ótimos e só eu agonizava.

Eu queria o objetivo: me provar que meditei por 3 dias em silêncio.

Ganhei meu "prêmio" e percebi que ele não serve para nada.


Cheguei em casa larguei a mala na sala mesmo, tomei um banho e deitei na cama. Ali ficou claro como o caminho Zen pode ser devastador e o porquê de ser chamado de “O Caminho Direto”, levando diretamente a um confronto consigo mesmo e com a vacuidade do “eu”.


Lembrei do mestre: “a única coisa oferecida pelo Zen, na qual o praticante pode se apoiar, são suas próprias ações.” Bom, pelo menos algum conforto, existe algo que está no meu controle e o zazen é o meu caminho para colocar em prática o que São Francisco de Assis falava: senhor, dai-me força para mudar o que pode ser mudado; resignação para aceitar o que não pode ser mudado; e sabedoria para distinguir uma coisa da outra.


Se valeu a pena? Valeu cada minuto.

Essa foi minha experiência, não significa que será a mesma que de quem for experimentar. De qualquer forma, como diz o mestre “o Zen verdadeiro é transmitido além das palavras. O conhecimento e a experiência são tão profundos que não podem ser descritos com palavras”, mas eu tentei mesmo assim. #pratiquemeditação


“Por isso sentamos em zazen, para esquecer de nós mesmos, porque aquele que consegue esquecer de si mesmo, pode ser iluminado por todas as coisas. Esquece o passado, esquece o futuro e está aqui no momento presente, realmente imóvel e tranquilo.

Nós estamos sonhando as nossas vidas.

Nós somos a própria vida ou o próprio universo, só que nós não enxergamos.

Só enxergamos a nós mesmos.

Abrimos os olhos, olhamos os outros, tocamos nas coisas e pensamos “EU SOU”, e isso

é a nossa angústia existencial, porque não queremos que esse “EU” desapareça, temos

pavor da morte.”

- Genshô Sensei




 
 
 

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